4Estações Editora

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domingo, 22 de fevereiro de 2015

Mário de Moura (DeMOURA) O RAPTO DA EUROPA, NÃO POR ZEUS mariommoura.blogspot.com

 24. O RAPTO DA EUROPA, NÃO POR ZEUS
  O dia de ontem, 20 de fevereiro, foi um dia que ficará para a história como o dia de luto para a Europa, o dia de Finados para a União Europeia, o dia do réprobo geral à Alemanha e o dia da vergonha para Portugal.
   O dia de luto para a Europa, porque o presidente do Eurogrupo (o Sr. Jeroen Dijsselbloem), num momento crucial para esta instituição, se acobardou perante Berlim.
   O dia de Finados para a União Europeia, porque o Presidente da Comissão Europeia (Jean-Claude Juncker), um experimentado político, retrocedeu o seu apoio à causa grega e foi incapaz de impor a sua manifesta vontade a favor da antiausteridade na Europa.
  O dia do réprobo à Alemanha, porque o seu Ministro das Finanças (Wolfgang Schäuble) e a sua acólita (Angela Merkel) conseguiram travar um processo de repúdio aos nefastos programas de austeridade impostos a alguns países europeus, através do qual os gregos pediam apoio para programas mais sensatos e humanos.
  O dia da vergonha de Portugal, pela subjugação canina do seu incompetente Primeiro-Ministro (Coelho) ao lamber as botas do diabólico  ministro alemão.
  Como a maioria dos europeus, admirei a coragem e o destemor de Alexis Tsipras e Yanis Varoufakis ao tentarem a saída da Grécia do programa dito de assistência, que na realidade é de agiotagem do capital internacional, não se negando a pagar a dívida do país, mas sim a equacionar a sua amortização para abrandar o sufoco e a miséria a que foi lançado uma boa parte do povo grego, e não só  some-se Itália, Espanha, Portugal, Chipre etc.
  O certo é que a Alemanha que saiu destruída da 2ª Grande Guerra, provocada por ela, que no pós-guerra recebeu um colossal auxílio financeiro dos E.U. e de outros países europeus, tendo depois essa dívida perdoada, incrivelmente, hoje domina totalmente a dita União Europeia, económica e politicamente. Há alguma razão? Tem algum cabimento? E faz sentido que menospreze claramente os países europeus do Sul, a que chama de preguiçosos e gastadores? Quando a Itália, a França, a Grécia, a Espanha eram vigorosas culturas, que deram coesão e prestígio à Europa, a Alemanha era um país de bárbaros.
  O belo sonho da Europa unida, tão bem idealizado, está a ser torpedeado sem escrúpulos ou hesitações por quem dele devia melhor cuidar. Não estará na altura destes indesejáveis países do Sul saírem em conjunto da União Europeia e formarem a União Europeia do Sul, com a sua moeda e economia próprias? Sem o peso burocrático e dispendioso de Bruxelas. Dessa forma a importação de produtos alemães e de outros países do Norte da Europa seriam tributados, dando melhores oportunidades aos dos seus próprios países. A Europa do Sul não precisa dos carros, das cervejas e dos alfinetes alemães.
  E já não estaria na hora dos povos ‘gastadores’ do Sul começarem a boicotar os produtos alemães? Não haverá alguém que encabece esse movimento desde já?
Num século a Alemanha provocou três sangrentas guerras, e perdeu-as. Mas deixou sempre muita miséria, mortes e destruição. Atualmente está de novo a provocar miséria, mortes e destruição. Como não considerar os bairros miseráveis onde se amontoam milhões de habitantes destes países do Sul da Europa como novos campos de concentração, onde inocentes morrem de fome, de frio e de doenças, sem terem culpas, e apenas para que os capitalistas alemães enriqueçam? Que devemos à Alemanha? O Requiem de Mozart para acompanhar os nossos mortos?
  Ao que parece a cruz suástica esconde-se agora no símbolo do euro.
 Estamos agora à mercê do despeito, da crueldade e do cinismo do prepotente senhor Schäuble, como há décadas estivemos de um outro louco de bigodinho de triste memória. Não estará agora na hora de rever O Grande Ditador, de Chaplin?
 Como é possível que um ministro Alemão se atreva a ladrar que o povo grego não deveria ter eleito Tsipras? Que audácia e que desrespeito pelos outros povos! E como se não bastasse, depois da reunião de ontem, em que teimosa e cruelmente impediu que os outros países analisassem com atenção e democraticamente a proposta grega, ainda teve o atrevimento de dizer: “E agora o que é que o Sr. Tsipras vai dizer ao povo grego?”
  Como é possível que mais de duas dúzias de chefes de Estado europeus ‘soberanos’ fiquem calados perante estas incríveis afirmações?
  Não quero aqui e agora falar do Presidente da República de Portugal e das suas habituais gafes políticas, que bem contribuem para a nossa vergonha. Esperemos pacientemente que ele volte para o seu Algarve.
  Mas não posso deixar de falar da insensatez do Primeiro-Ministro (evitei dizer nosso), que não percebe que o ‘caso’ grego pode fazer toda a diferença, para melhor ou para pior, para a crise portuguesa. Penso que possivelmente ele não ganhará as próximas eleições (acredito nos portugueses), mas o que me pergunto é o que  acontecerá a ele posteriormente? Será julgado em Tribunal Criminal por tantas mortes e destruição que causou, ou simplesmente irá roçar as suas calças em Bruxelas ou numa grande empresa?
  Já disse que, para Portugal, 20 de fevereiro é o dia da vergonha pelo comportamento servil de Coelho à dupla alemã, mas não só. Mais caricato ainda, é a Ministra das Finanças de Portugal prestar-se ao papel de panfletária a favor da austeridade apresentando o país como um exemplo de sucesso do programa da troika, um desrespeito aos muitos milhares que aqui estão na miséria e desempregados, para agradar aos alemães.
  Não sei se se lembram de Fritz Lang no início da sua carreira de cineasta nos estúdios da UFA, no seu país, a Alemanha (Dr. Mabude e M de Matar)? Nos seus filmes dessa época apareciam umas figuras disformes e pérfidas que aterrorizavam as plateias. Depois ele foi para os Estados Unidos onde dirigiu belíssimos filmes, entre eles o corajoso Os Carrascos também Morrem (sobre o assassinato de crianças pelos nazis, estando estes ainda no poder,1943).  Parece que Lang deixou à solta, no seu país natal, descendentes desses monstrinhos.
  Não, não, a mítica Europa não foi raptada por Zeus, mas por Schäuble e Merkel!

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